O tenista português Francisco Cabral protagonizou um momento simbólico nesta sexta-feira (4), em Wimbledon, ao homenagear os compatriotas Diogo Jota — atacante do Liverpool e da seleção portuguesa — e seu irmão, André Silva, falecidos na quinta-feira (3) em um trágico acidente de carro. Cabral entrou em quadra com uma faixa preta no braço esquerdo da camisa, quebrando um dos protocolos mais tradicionais do torneio britânico, que exige trajes completamente brancos.

A homenagem ocorreu durante a partida de duplas e marcou a quebra de uma tradição de 148 anos no Grand Slam londrino. Apesar das regras rígidas, o All England Club autorizou, de forma inédita, o uso da faixa preta como símbolo de luto, permitindo que Cabral prestasse sua homenagem de forma pública e tocante.

Em entrevista ao Daily Mail, o tenista revelou que não conhecia Diogo Jota pessoalmente, mas sabia que ele era “um grande cara” por meio de um amigo em comum.

Francisco Cabral usou um pequeno laço preto na manga para homenagear o compratriota Jota (Foto: Reprodução/Ezra Shaw/Getty Images Embed)

Wimbledon flexibiliza regra centenária

O código de vestimenta de Wimbledon, vigente desde 1877, determina que os tenistas usem roupas inteiramente brancas como forma de disfarçar manchas de suor, algo que era considerado inadequado à época. A regra se mantém firme até hoje, embora tenha passado por uma flexibilização em 2023, permitindo que jogadoras utilizem shorts coloridos por baixo do uniforme branco — medida adotada a pedido das próprias atletas, visando maior conforto durante o período menstrual.

Nesta semana, o torneio autorizou uma nova exceção. A partir desta sexta (4), jogadores estão liberados para usar faixas pretas como forma de homenagear Diogo Jota e André Silva. A decisão foi tomada após pedido feito por Cabral à organização pouco antes de sua partida de duplas.

“Ontem, eu tive a ideia de usar uma fita preta, mas não foi permitido“, contou Cabral à CNN. “A equipe de relação com jogadores tinha uma fita preta e pedi permissão. Eles me deixaram jogar hoje com ela e fiz isso nesta manhã.“, relatou.

Em comunicado, o Wimbledon confirmou que levou em consideração o pedido de Cabral. “Estamos sempre abertos a ter conversas com os jogadores sobre esses assuntos e, dadas às circunstâncias, o Árbitro Geral aprovou que jogadores usem a faixa preta como uma marca de respeito e condolências.“

Atual número 40 do mundo nas duplas, Cabral (que usou a faixa preta) e o austríaco Lucas Miedler foram eliminados na segunda rodada por Patrik Rikl e Petr Nouza, da República Tcheca, com parciais de 6/3 e 7/6(9), que ocorreu nesta manhã.

Tragédia com Diogo Jota comove o esporte

Diogo Jota faleceu aos 28 anos em um acidente de carro na madrugada de quinta-feira (3), em Zamora, no norte da Espanha. Ele estava acompanhado do irmão, André Silva, de 25 anos, que também não resistiu ao impacto.

O jogador havia se casado recentemente com Rute Cardoso e deixa três filhos. Segundo a polícia local, o veículo em que estavam trafegava pela rodovia A-52, próximo a Sanabria, quando um dos pneus estourou durante uma tentativa de ultrapassagem. O carro saiu da pista e pegou fogo.

A tragédia causou profunda comoção em Portugal e reverberou entre clubes, atletas e torcedores de todo o mundo. Os corpos dos irmãos chegaram a Gondomar na noite de quinta-feira e foram recebidos com aplausos. O funeral está marcado para este sábado (5), na região do Porto.

Nomes como Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva e Bruno Fernandes — companheiros de Jota na seleção portuguesa e nas conquistas das duas edições da Nations League — lamentaram a perda do jogador em entrevistas e publicações nas redes sociais.

Publicação de Cristiano Ronaldo em homenagem a Diogo Jota (Foto: Reprodução/Instagram/@cristiano)

O Liverpool, clube onde Jota atuava desde 2020, prestou homenagem nas redes sociais com um vídeo emocionante baseado em uma declaração do próprio atleta após conquistar sua primeira Premier League. Além disso, torcedores dos Reds lotaram os arredores do estádio Anfield com flores, cartas e objetos em memória do atacante.