Lilly Sarti se inspira nos anos 80 em desfile marcante no SPFW

Para lançar sua coleção de outono/inverno 2026, a marca Lilly Sarti realizou um desfile intimista e nostálgico no Teatro Iguatemi, se tornando um dos momentos mais comentados dessa edição do São Paulo Fashion Week. Apostando no couro e utilizando de inspiração o estilo pertencente a década de 1980, ela uniu pertencimento e inovação, sem fugir das raízes da marca.

A coleção Kosmo Polites

O nome é inspirado no grego, sugerindo uma ideia de pertencimento tanto social, quanto coletivo, também carregando o sentido de “cidadão/cidadania”, se tratando de quem veste, participa, cria e habita o espaço da moda. Não se trata explicitamente de uma releitura dos anos 80, mas uma inspiração por sua quantidade surpreendente de características marcantes.


 Peças da nova coleção da marca (Foto: reprodução/Instagram/@spfw)

Ombros caídos, volumes, modelagens ousadas, cinturas marcadas, mistura de peças justas e largas, tecidos estruturados, presença de brilho e detalhes em metálico e, principalmente, a presença de couro, um dos carros-chefes dessa coleção, se configuram como detalhes retirados dessa década tão marcante para o mundo da moda.

Desfile se torna narrativa visual

A apresentação das peças da Kosmo Polites se tornou um verdadeiro espetáculo visual pela forma como foi elaborada. Inicialmente, foi dividido em três partes: O “circuito”, mostrando peças que respiram flexibilidade, o “tabuleiro”, trazendo uma mistura de proporções e texturas e, por fim, a “escada”, exibindo volumetria com influencias orientais.


 Parte do desfile (Vídeo: reprodução/Instagram/@spfw)

Trabalhando com sobreposição de modelagens, cores e tecidos, a Lilly Sarti enfatizou que tudo pode ser acrescentado ou removido, trazendo looks que se adaptam e peças que conversam entre si. Comemorando os 20 anos da marca e também sendo o único desfile do terceiro dia da SPFW, as modelos foram posicionadas como peças em um tabuleiro de xadrez, ela disse a revista Elle sobre o que desejou passar através das peças: “Buscamos a etimologia da palrava e seus significados para entender tudo que fizemos até agora”, comentou, reforçando que as roupas se encaixam em qualquer guarda-roupa e funcionam de segunda a domingo.

Patrícia Vieira aposta em estampas florais para o São Paulo Fashion Week

A grife brasileira Patrícia Vieira inaugurou sua nova coleção de primavera/verão 2025 em um belo desfile realizado no Teatro Iguatemi, na capital paulista, para o São Paulo Fashion Week. Agora sob direção criativa de sua filha, Andrea Vieira, é possível ver um dialogo entre gerações na marca e, ao mesmo tempo, as raízes já conhecidas da casa, como o olhar artesanal.

Grife foca em flores

Para essa coleção, ela optou por apostar em estampas florais, antecipando a próxima moda que será tendência no verão europeu. As flores aparecem em estampas sobre o couro, uma das assinaturas da marca, mas não apenas no estilo comum. A casa também brincou com as pequenas e delicadas, assim como o floral mais clássico europeu, reinterpretando diferentes estilos.


 Peças da coleção verão 2025 da grife (Foto: reprodução/Instagram/@patriciavieiraoficial)

As cores utilizadas também ajudaram a reforçar a estética desejada, trazendo tons mais suaves como branco, verde claro e azul cor do céu como uma base, assim como um rosa mais escuro, vermelho e preto para dar o contraste perfeito e o foco que as flores precisam.

Desfile traz nostalgia

Andrea Vieira decidiu revisitar Londres, onde sua mãe, Patrícia, começou sua carreira na década de 1970. O teatro no qual o desfile foi realizado trouxe uma atmosfera intimista, usando a capital britânica como lembrança e ponto de partida, focando em proporções e detalhes, ativando a memória e trazendo um sentimento de nostalgia para as pessoas presentes na plateia.


 Proposta apresentada no desfile (Vídeo: reprodução/Instagram/@luandavieira)

Além da referência londrina e das estampas floridas, a grife também trouxe para essa nova coleção cortes precisos, técnicas de recorte, proporções com movimento através de peças que valorizavam o corpo e sustentabilidade, continuando com o compromisso de utilizar recortes de couro que foram reaproveitados em outras aplicações. Segundo os convidados, Patrícia assistiu ao desfile da plateia e, no fim, subiu ao palco com sua filha, reforçando o legado e momento de transição da marca.

Ronaldo Fraga retorna ao SPFW em cortejo poético a Milton Nascimento

Seis anos depois de sua última participação, Ronaldo Fraga voltou às passarelas do São Paulo Fashion Week como quem regressa a um altar. A escolha do cenário — o Museu da Língua Portuguesa e não poderia ser mais simbólica: entre palavras e memórias, o estilista mineiro apresentou a coleção “Minas-Nascimento”, uma homenagem luminosa a Milton Nascimento.

Fraga transformou o desfile em um rito de celebração. Crianças abriram o caminho vestidas como anjos, em uma cena que remetia tanto à pureza quanto à origem da própria música de Milton. Aquele menino de cinco anos que, com uma sanfona nas mãos, começou a traduzir o som dos rios, dos ventos e das montanhas de Minas. A passarela virou procissão: modelos desfilaram com luzes de LED sobre a cabeça, como se carregassem pequenas auréolas em movimento.

O som que vira tecido

A trilha sonora foi tão protagonista quanto as roupas. Vozes, sanfonas e batidas suaves ecoaram pelo museu, costurando o tempo entre o menino de Três Pontas e o estilista de Belo Horizonte. Em cada passagem, o público parecia caminhar com Fraga — não apenas assistindo a um desfile, mas participando de um cortejo de memória e emoção.


 

Coleção "Minas-Nascimento" de Ronaldo Fraga (Vídeo: reprodução/YouTube/@SPFWoficial)

Essa atmosfera imersiva reforçou a força simbólica da coleção: vestir-se, aqui, é também um ato de ouvir. A música de Milton virou textura, e as texturas de Fraga ganharam som em uma fusão rara entre moda, arte e afeto.

Entre o minério e o sonho: o artesanato como voz

A coleção nasceu das mesmas terras que moldaram tanto o estilista quanto o músico. Linho cru, jeans e tafetá apareceram tingidos em tons terrosos, dourados e azuis profundos; um reflexo do minério, do céu e das noites mineiras. Cada ponto de bordado, cada renda richelieu, cada pedaço de crochê trazia a assinatura silenciosa de artesãs de Minas Gerais, Goiás e Santa Catarina.


Coleção "Minas-Nascimento" de Ronaldo Fraga (Vídeo: reprodução/Instagram/@revistazelo)

As peças carregavam versos bordados, fragmentos de canções como “Caçador de mim” e mangas volumosas que davam corpo ao gesto, ampliando o discurso visual de Fraga. A silhueta curta e ampla, característica do estilista, reafirmou o equilíbrio entre o dramático e o cotidiano, entre o vestir e o sentir.

Mais do que roupas, “Minas-Nascimento” é um reencontro entre fé, memória e pertencimento. Ronaldo Fraga costura o Brasil com linhas de afeto e resistência, transformando tecido em canção. “Com voz também se costura”, ele lembra e, na noite em que Milton Nascimento virou roupa, o SPFW voltou a soar como poesia.