Lula assina decreto que regula Lei de Reciprocidade Econômica

Foi regulamentada pela Presidência da República na última segunda-feira (14) a Lei de Reciprocidade Econômica. A medida busca executar contramedidas a países que estabeleçam sanções unilaterais contra o Brasil. As ações podem ser por via econômica ou diplomática, oferecendo o mesmo tratamento ao país aplicador das sanções.

A lei, aprovada pelo Congresso Nacional em abril deste ano, é de autoria do senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), com relatoria da senadora Tereza Cristina (PP-MS).

Como surgiu

A Lei de Reciprocidade foi criada após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentar um pacote de medidas econômicas ousado, com aplicação de tarifas recíprocas aos países que, segundo análise do governo norte-americano, impõem barreiras desproporcionais aos seus produtos. O dia 2 de abril, data em que o pacote foi anunciado, foi denominado de Liberation Day (“Dia da Libertação”).

Em abril, a taxação que Trump havia estabelecido para o Brasil era de 10%, e foi praticamente a mesma para a maioria dos países. Uma das exceções foi a China, cuja taxação chegou a 145%. Segundo o vice-presidente, Geraldo Alckmin, o Brasil manifestou imediato interesse em negociar a tarifa com governo norte-americano.


Lula anuncia a regulamentação da lei na noite desta quinta-feira (Foto: reprodução/Instagram/@lulaoficial)

Como funciona

A lei estabelece critérios para que o Brasil possa aplicar a reciprocidade. O primeiro é quando houver aplicação de sanções econômicas unilaterais, como o que está ocorrendo com os Estados Unidos no momento. Outro critério é quando acordos comerciais firmados anteriormente forem violados, e isso prejudique o mercado nacional. A reciprocidade também pode ocorrer quando o país impuser medidas ambientais que sejam mais rígidas do que as brasileiras.

No texto da nova lei, há a criação de Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais. Este analisará todas as propostas de negociações e de contramedidas com objetivo de reverter o que for prejudicial ao Brasil. A secretaria deste comitê ficará a cargo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), que, atualmente, é comandado por Alckmin.


Senador Zequinha Marinho anunciando a aprovação da lei de reciprocidade (Vídeo: reprodução/Instagram/@zequinhamarinhooficial

Retaliação brasileira

Em relação às tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos, o governo brasileiro pode seguir a linha de retaliação imediata, aplicando taxas equivalente aos produtos americanos. Outro caminho seria solicitar apoio à Organização Mundial do Comércio (OMC), contestando tal prática. Uma terceira via é a revisão de antigos acordos com o país que não se restringem apenas ao campo econômico, podendo atingir outras áreas, como a concessão de vistos.

A publicação do decreto simboliza uma resposta brasileira às medidas de Trump. Contudo, alguns setores, como o agronegócio brasileiro, enxergam a situação como preocupante e pedem cautela ao governo brasileiro. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se encontrou com empresários na manhã da última terça-feira (15) no Palácio dos Bandeirantes para conversar com diversos empresários a respeito da nova tarifa e discutir o impacto na economia.

Tarcísio nega pedido ao STF para Bolsonaro negociar tarifa com Trump e vira alvo de investigação

Com a tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros, o mercado nacional entrou em alerta. No entanto, o que realmente ganha destaque é o impacto político dessa decisão, principalmente no Brasil. No centro da polêmica está o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vem sendo apontado de tentar impulsionar a ida de Bolsonaro (PL) para os EUA. A intenção seria reverter a medida diretamente com o ex-presidente norte-americano.


Tarcísio fala sobre o impacto que a taxação vai trazer para São Paulo (Vídeo: reprodução/Instagram/globonews)

A suposta articulação com Bolsonaro

Segundo informações vazadas por interlocutores do Judiciário, Tarcísio teria recorrido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir autorização especial que permitiria ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente inelegível e com o passaporte retido, viajar aos Estados Unidos. O objetivo seria negociar diretamente com Donald Trump a revogação da tarifa. A iniciativa, se confirmada, representaria uma tentativa informal de diplomacia paralela.

No entanto, Tarcísio negou categoricamente a existência desse pedido. Em nota, afirmou nunca ter procurado o STF com tal finalidade. Ainda assim, o suposto vazamento levantou suspeitas e acendeu um novo embate político.

A reação após o anúncio da tarifa

O caso ganhou força após a tarifa de 50% ser anunciada oficialmente na tarde de quarta-feira (9). A medida afeta diretamente a exportação de produtos brasileiros e reacende tensões entre os dois países. Vale lembrar que Bolsonaro está impedido de deixar o Brasil por conta das investigações relacionadas à tentativa de golpe de Estado, e segue sob escrutínio do Judiciário.

Lula, oposição e investigações

Diante da gravidade da acusação, o Partido dos Trabalhadores (PT) solicitou na sexta-feira (11) que o ministro Alexandre de Moraes apure a possível participação de Tarcísio. Além disso, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar o governador de São Paulo.