Militares começam a cumprir pena por tentativa de golpe no Brasil

Pela primeira vez na história do país, oficiais das Forças Armadas começaram a cumprir pena por participação em uma tentativa de golpe de Estado. As prisões, determinadas após decisões judiciais recentes, mobilizaram diferentes estruturas militares e provocaram forte reação das defesas dos condenados, que falam em perseguição, ilegalidade e violação ao direito de defesa.

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, sentenciado a 24 anos, foi localizado pela Polícia Federal no escritório de seu advogado e levado para o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. A defesa afirma que “provas robustas” que descartariam sua participação em atos golpistas teriam sido ignoradas pelo tribunal que analisou o caso. Torres ficará em área reservada do 19º Batalhão da Polícia Militar.

Garnier, Heleno e Nogueira cumprem pena

Outro condenado, o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, também recebeu pena de 24 anos. Ele chegou em comboio à Estação Rádio da Marinha, onde deverá cumprir a decisão. Já os generais da reserva Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira foram encaminhados ao Comando Militar do Planalto. Ambos negam qualquer envolvimento com intentos golpistas; a defesa de Heleno pediu a anulação de todo o processo, classificando-o como “viciado” e fruto de perseguição.


Militares presos por trama golpista (Vídeo: reprodução/YouTube/


Na Vila Militar do Rio, o general da reserva Braga Netto já estava preso preventivamente desde 2024. Agora, a detenção foi convertida em cumprimento de pena, definida em 26 anos. A defesa classificou o resultado como “injusto” e criticou o entendimento de que seus recursos eram meramente protelatórios, acusando o processo de violar garantias fundamentais desde o início.

Ramagem foge e é declarado foragido da Justiça

O delegado Alexandre Ramagem, condenado a mais de 16 anos, não foi encontrado e agora é considerado foragido, já que deixou o Brasil após o julgamento.O ministro responsável pelo caso notificou a Câmara, o TSE e o Ministério da Justiça para que sejam aplicadas as punições administrativas cabíveis.

Já o coronel Mauro Cid, delator do caso, cumpre pena de dois anos em regime aberto. Ele tem restrições de circulação, não pode deixar o país e precisa se apresentar semanalmente à Justiça. Tudo faz parte do acordo de delação premiada firmado com os investigadores.

Moraes define onde membros do “núcleo crucial” ficarão presos

O ministro Alexandre de Moraes definiu nesta terça (25), no STF, onde cada um dos integrantes do “núcleo crucial” da trama golpista deverá cumprir suas penas. Os endereços concluem a tramitação das ações, dando por encerrado o processo. Bolsonaro seguirá na superintendência da PF.

A decisão de Moraes veio logo após o STF dar por concluído o processo contra os réus. O prazo para o envio de novos embargos pelos advogados de defesa encerrou ontem e assim o STF estava liberado para dar seguimento às condenações.

Onde cada condenado irá ficar

Para o cumprimento das prisões, foram escolhidos cinco lugares entre Brasília e Rio de Janeiro.

Jair Bolsonaro permanece na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde já está desde o último sábado (22) e sua pena foi de 27 anos e três meses em regime fechado. Ele está em um quarto com ar-condicionado, televisão, tem recebido visitas e possui atendimento médico 24 horas.

Anderson Torres irá para Papudinha, no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. O ex-secretário de Segurança Pública vai cumprir seus 24 anos de prisão no 19° Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal.

Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, teve sua pena de 19 anos de prisão e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, foi condenado a 21 anos de prisão. Os dois irão para o Comando Militar do Planalto, em Brasília.

Almir Garnier Santos ficará preso na Estação Rádio da Marinha em Brasília. A pena do ex-comandante da Marinha foi de 24 anos de prisão. O local onde cumprirá sua pena pode mudar caso o STF decida votar pela cassação da sua patente.

Já Walter Souza Braga Netto foi o único que ficará fora da capital do país. Ele está preso desde 14 de dezembro de 2024, por tentar atrapalhar as investigações, na 1ª Divisão de Exército, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, onde permanecerá cumprindo sua pena de 26 anos.

No caso do deputado Alexandre Ramagem Rodrigues, Moraes não definiu um local para o cumprimento, pois o réu está foragido em Miami. O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência foi condenado a 16 anos, 1 mês e 15 dias, além da perda de seu mandato parlamentar. Seu nome também foi incluído no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.


Mauro Cid, delator do processo, está preso desde começo do mês (Foto: Reprodução/Anadolu/ Getty Images Embed)


Benefício da delação

O tenente-coronel Mauro Cid, também foi condenado como parte do núcleo crucial. Mas, ao fazer sua delação premiada, recebeu uma pena menor: dois anos em regime aberto. A defesa de Cid não recorreu da sentença e ele começou a cumprir sua pena no começo do mês em Brasília. O tenente-coronel não pode sair do país, nem ter contato com os outros envolvidos no processo e precisa ficar em casa das 20 h às 6h.

Todos os condenados ainda vão passar nesta semana por uma audiência de custódia para avaliar a legalidade da prisão e conferir se os direitos fundamentais e sua integridade física e psicológica foram respeitados.

Mauro Cid tem sua tornozeleira eletrônica removida após decisão do STF

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), teve sua tornozeleira eletrônica retirada após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (3). A Primeira Turma da Corte finalizou o julgamento da trama golpista em relação ao Tenente Coronel, que teve a pena mais leve dentre todos os condenados.

Diferente de Cid, os outros réus aguardam a análise dos recursos, que foram apresentados ao STF.

Restrições a Cid

O julgamento de Mauro Cid foi concluído nesta segunda-feira, e com ele, veio a decisão de que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro não terá mais a necessidade de utilizar tornozeleira eletrônica. Entretanto, na última sexta-feira (30), o ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou que Cid iniciasse o cumprimento de sua pena por participar de uma tentativa de golpe de Estado, que é de 2 anos de reclusão em regime aberto, cumprindo algumas medidas cautelares impostas pela Corte.

Dentre as medidas cautelares, Cid terá de se recolher em sua residência entre 20h e 6h, e integralmente durante os fins de semana, o que vai de encontro à ideia do Tenente Coronel de deixar o país. Além disso, o militar está proibido de portar armas, utilizar-se de seus perfis nas redes sociais, e está impossibilitado de se comunicar com investigados e condenados pela trama golpista.

Após pedido da defesa de Cid, o ministro e relator do caso, Alexandre de Moraes, determinou que fosse levantado o período em que o militar esteve preso de maneira provisória, para que esse tempo de reclusão seja abatido na sua pena.


Mauro Cid depõe no inquérito que investigou os atos de 8 de janeiro, em Brasília (Foto: reprodução/Evaristo Sa/AFP/Getty Images Embed)


Menor pena

Por ter sido o delator na investigação da tentativa de golpe de Estado, Mauro Cid obteve a menor pena dentre os réus, com 2 anos de reclusão em regime aberto com algumas medidas cautelares. As defesas dos demais condenados, como Jair Bolsonaro, Almir Garnier, Anderson Torres, Alexandre Ramagem, Walter Braga Netto, e Paulo Sérgio Nogueira, apresentaram recursos na semana passada contra a condenação antes do cumprimento de suas respectivas penas. A defesa do General Augusto Heleno ainda não se manifestou.

Trama golpista: condenados devem pagar mais de R$ 1 milhão em multas

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) fixou penas que somam 159 anos e 7 meses de prisão, além de R$ 1,15 milhão em multas, para os oito condenados do núcleo central da trama golpista que tentou desacreditar o sistema eleitoral e abrir caminho para um golpe de Estado.

STF define penas e multas para réus da trama golpista

Jair Bolsonaro recebeu a pena mais alta: 27 anos e 3 meses de prisão, além de multa de R$ 379,3 mil. Para o relator Alexandre de Moraes, o ex-presidente atuou como líder da organização criminosa, o que ficou evidenciado pelo uso de órgãos públicos (Abin e GSI) em ações ilegais, pela difusão de desinformação em atos públicos, a exemplo da live de 2021, e pelas manifestações de 7 de Setembro. Também foram apontados a chamada “minuta do golpe” discutida com militares e aliados, o planejamento da Operação Punhal Verde-Amarelo e as tratativas para a decretação de estado de sítio.

O general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa, foi condenado a 26 anos de prisão e multa de R$ 149,3 mil. De acordo com Moraes, ele teve papel central na operação articulada para barrar a posse de Lula, além de exercer pressão sobre comandantes militares e assumir a coordenação de um gabinete de crise voltado a sustentar o golpe.

O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, foi sentenciado a 24 anos de prisão e multa de R$ 149,3 mil. Segundo o relator, ele foi o único chefe militar a aderir formalmente ao golpe, chegando a oferecer tropas a Bolsonaro e a se recusar a passar o comando ao sucessor, atitude considerada uma quebra da tradição das Forças Armadas.

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres recebeu 24 anos de prisão e multa de R$ 149,3 mil. Para Moraes, sua responsabilidade envolveu tanto omissões quanto ações diretas, como a tentativa de usar a Polícia Rodoviária Federal para dificultar o transporte de eleitores no segundo turno e manter em casa uma minuta de decreto golpista.


Alexandre de Moraes vota pela condenação de Bolsonaro (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)

O general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, foi condenado a 21 anos de prisão e multa de R$ 125,4 mil. Segundo o relator, ele liderava um “gabinete de crise” para dar suporte institucional ao projeto golpista, com anotações e participação em reuniões estratégicas que evidenciaram seu envolvimento.

O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira foi sentenciado a 19 anos de prisão e multa de R$ 125,4 mil. Moraes destacou que, embora a pena tenha sido reduzida por tentativa de mitigar os efeitos do crime, Nogueira atrasou a divulgação do relatório das Forças Armadas que confirmava a normalidade das eleições, seguindo orientações de Bolsonaro.

O ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem recebeu 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão, além de multa de R$ 74,7 mil. Para o relator, ele transformou a agência em uma “central paralela de contrainteligência”, produzindo relatórios falsos que atacavam o sistema eleitoral e reforçavam as narrativas do então presidente.

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teve a pena reduzida por delação premiada e cumprirá dois anos em regime aberto, mantendo sua patente militar.

Bolsonaro e aliados recebem condenações históricas

No total, as penas aplicadas aos oito réus chegam a 159 anos e 7 meses de prisão, além de R$ 1,15 milhão em multas, valor calculado com base no salário mínimo de 2023, de R$ 1.320, corrigido pelo IPCA até agosto de 2025.

O ministro Alexandre de Moraes detalhou o papel de cada réu na trama que buscava minar o sistema eleitoral e viabilizar um golpe de Estado. O julgamento é histórico, sendo a primeira condenação de um ex-presidente por tentativa de golpe. Além das consequências imediatas, como o afastamento definitivo de Bolsonaro da política, o caso terá efeitos duradouros sobre as Forças Armadas, com três ex-comandantes militares entre os condenados.

STF condena Mauro Cid por 2 anos em regime aberto

Mauro Cid atualmente é um tenente-coronel da ativa do Exército brasileiro e foi condenado hoje (11/09) pelos mesmos cinco crimes de Bolsonaro, mas teve uma pena bem diferente e reduzida por ser beneficiado por uma delação premiada. Cid entregou Bolsonaro e seus aliados pelos crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.

Condenação de Mauro Cid foi reduzida


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Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro (Foto: Reprodução/Evaristo Sá/AFP/Getty Images Embed)

O STF definiu na data de hoje, (11/09) que Mauro Cid cumprirá dois anos de prisão, em regime aberto, por colaborar com as investigações, em troca de delação premiada, ele contou o que sabia sobre reuniões, planos e documentos que colocavam o nome de Bolsonaro e de seus aliados em um plano golpista, as informações foram confirmadas e usadas como provas por Moraes no processo contra os réus, onde foram apreendidos registros e mensagens  para impedir a posse do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Cid era ajudante de ordens no governo de Bolsonaro, era o braço direito do ex-presidente, e estava disponível 24 horas por dia para ajudá-lo.

Cid e outras acusações

Mauro Cid também foi acusado de fazer saques nos cartões corporativos da presidência da República, e em sua delação premiada, ele confessou que os gastos feitos por motociatas, em apoio ao governo de Bolsonaro, foram financiadas por esses cartões ilegalmente. Cid também foi acusado de tentar tirar as joias sauditas que foram detidas no Aeroporto de Guarulhos em São Paulo, por serem declaradas à Receita Federal como item pessoal, as isentando de impostos, mas depois em depoimento disse que as joias eram para o acervo de patrimônio público de Jair Bolsonaro. Cid também acumula em seu currículo acusações de ataque hacker ao STF e envolvimento com milícias digitais, em que ele espalhava fake news na pandemia que a vacina da Covid-19 teria relação com o vírus do HIV, (Aids) disseminando notícias falsas durante esse período conturbado na história do Brasil.

Condenação de Bolsonaro: Fux diverge de Dino e Moraes ao votar contra

Em seu voto, o ministro Luiz Fux argumentou que não há evidências de que o ex-presidente tenha ordenado a destruição dos prédios públicos durante os atos de 8 de janeiro. Ele destacou que a Procuradoria-Geral da República não conseguiu estabelecer um nexo de causalidade entre os discursos de Bolsonaro e os atos de vandalismo. Essa mesma linha de raciocínio foi utilizada por Fux para absolver Mauro Cid e Almir Garnier dos mesmos crimes, reforçando que eles não estariam diretamente ligados aos danos patrimoniais daquela data.

Crimes contra a democracia

Luiz Fux votou pela absolvição de Bolsonaro dos crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito baseado em uma análise de três pontos principais: o uso de um software de monitoramento pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), os discursos contra o sistema eleitoral e a suposta adesão a planos contra autoridades. Entenda:

Falta de atos executórios

Para o ministro, não há provas de que Bolsonaro tenha participado de atos executórios de crimes contra as instituições democráticas. Ele argumentou que o software da Abin já não estava mais em uso na época dos fatos e que o ex-presidente e seus apoiadores defenderam mudanças no sistema de votação, mas que isso não pode ser considerado uma “narrativa subversiva”.


Ministro Luiz Fux determina como “mera irresignação com o resultado eleitoral”. (Vídeo: reprodução/TV Justiça/X/@lazarorosa25)

Minuta golpista: “mera cogitação”

Um dos pontos centrais da acusação, a chamada “minuta golpista”, foi classificada por Fux como um “ato preparatório” e não um crime passível de punição. O ministro argumentou que, por se tratar de um rascunho, o documento era uma “mera cogitação” e não um ato de execução. Ele enfatizou que qualquer decreto de estado de sítio dependeria de aprovação do Congresso e de uma assinatura formal de Bolsonaro, o que nunca ocorreu.


Ministro Luiz Fux vota por condenação de Mauro Cid.(Vídeo: reprodução/TV Justiça/X/@eleicoesempauta)

Voto para condenar Mauro Cid

Embora tenha votado pela absolvição de Bolsonaro em todos os crimes, Fux divergiu em relação a Mauro Cid, condenando-o por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Já existe maioria pela condenação de Cid nesse crime.


Ministro Luiz Fux designa o grande volume de provas como “cercemento da denúncia”.(Vídeo: reprodução/TV Justiça/X/@MariLacerdaPT)

O questionamento de Fux sobre o julgamento da trama golpista

Em seu voto, o ministro Luiz Fux levantou uma questão de competência no julgamento da chamada “trama golpista”, defendendo que o processo deveria ser transferido para instâncias inferiores da Justiça, já que os réus não possuem mais foro privilegiado. Ele argumentou que, ao ser julgado pelo STF, o ex-presidente Jair Bolsonaro estava sendo tratado “como se presidente fosse”, o que, na visão de Fux, exigiria um julgamento com todos os 11 ministros no plenário, e não apenas na Primeira Turma. O ministro também mencionou um excesso de provas disponibilizadas em um curto período, o que teria prejudicado a defesa, e por isso, defendeu a anulação do processo.

Fux vota para manter delação de Mauro Cid no STF

Na última quarta-feira (10), o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), alinhou-se aos colegas Alexandre de Moraes e Flávio Dino e votou a favor da manutenção da delação premiada de Mauro Cid. Esse voto fortaleceu a maioria na Primeira Turma do STF em favor da manutenção da validade da colaboração, que fundamenta as investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 réus. Embora houvesse críticas em relação à quantidade de depoimentos fornecidos por Cid, a decisão foi unânime.

Fux segue o voto de Moraes e Dino

O ministro Luiz Fux, que a princípio era considerado um possível voto divergente, surpreendeu ao se juntar aos ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Ele admitiu que, apesar do grande número de depoimentos, Cid havia esclarecido as omissões e contradições identificadas pela Polícia Federal. Fux também indicou que, ao avaliar a dosimetria da pena, poderia concordar com a análise de Dino a respeito da preservação dos benefícios estabelecidos no acordo de colaboração premiada.


 Luiz Fux elogiou Moraes, mas questionou o tempo para as defesas que receberam um "tsunami de dados"(Vídeo: reprodução/Instagram/@portalg1)

A defesa de Bolsonaro contesta a validade da delação

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro alegou que o número de depoimentos de Cid apontava inconsistências na delação premiada. Eles afirmaram que o ex-ajudante de ordens foi negligente ao fornecer informações essenciais, o que afetaria a validade da colaboração. Contudo, o STF não aceitou esses argumentos, considerando a delação válida e admissível para as investigações em curso.


Defesa de Bolsonaro contesta delação de Mauro Cid e nega plano de golpe (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)

A decisão do STF de preservar a delação de Mauro Cid destaca a relevância da colaboração premiada como ferramenta de investigação, apesar das críticas em relação ao número de depoimentos. A concordância dos ministros Fux, Moraes e Dino sugere uma posição unificada da Primeira Turma quanto à validade da colaboração. Isso indica que, embora existam algumas divergências, há um consenso sobre a importância de intensificar as investigações ligadas à tentativa de golpe de Estado.

Moraes defende sua atuação como relator e mantém validade da delação de Mauro Cid

O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal conhecida como “trama golpista”, votou nesta terça-feira (9) para validar sua conduta como relator e rejeitou todas as questões preliminares apresentadas pelas defesas dos réus. Entre as preliminares, estavam pedidos de nulidade da delação do tenente-coronel Mauro Cid, alegações de atraso na entrega de provas e críticas à condução dos interrogatórios, todas foram indeferidas pelo relator como improcedentes.

Moraes criticou duramente a estratégia das defesas ao alegarem que os primeiros depoimentos de Mauro Cid seriam contraditórios: “beira a litigância de má-fé”, disse o ministro. No total, foram oito vídeos separados, segundo Moraes, abordando “fatos diversos” e não versões conflitantes.

Reação às críticas processuais

Moraes também rejeitou a crítica da defesa de Augusto Heleno, que apontou ter sido indagado mais vezes pelo relator do que pela PGR. O ministro classificou como “esdrúxula” a tentativa de censurar sua atuação, afirmando que cabe ao juiz fazer perguntas no processo, conforme o sistema acusatório exige.

Não cabe a nenhum advogado censurar o magistrado contando o número de perguntas que ele deve fazer (…) O juiz não só pode, como deve fazer perguntas, principalmente nos interrogatórios“, argumentou Moraes.


Julgamento dos réus da "trama golpista" no Supremo Tribunal Federal (STF) (foto: reprodução/Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Validade da delação

No julgamento, o ministro manteve a validade da delação premiada de Mauro Cid, recusando anular o acordo por eventuais omissões. Moraes afirmou que omissões não implicam em nulidade do acordo, mas devem ser analisadas posteriormente quanto à modulação dos benefícios concedidos.

O ministro ressaltou que cabe ao Ministério Público avaliar o cumprimento das cláusulas da colaboração e, em caso de descumprimento, pode ser requerida a revisão ou até a perda dos benefícios. O ministro destacou ainda que a homologação de uma delação não significa aceitação automática de todas as declarações do colaborador, mas sim a possibilidade de que os fatos relatados sejam investigados e confrontados com outras provas dos autos.

Moraes mostra slide em julgamento relacionando Bolsonaro como líder de organização criminosa

O Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ao votar o mérito da ação penal conhecida como “trama golpista” nesta terça-feira (9), apresentou um slide que posiciona Jair Messias Bolsonaro como líder de uma organização criminosa. O slide, divulgado durante a leitura do voto, relaciona o ex-presidente aos demais sete réus principais no núcleo da trama investigada.

Segundo Moraes, o grupo criminoso teria usado órgãos públicos para monitorar adversários políticos, atacar o Poder Judiciário e desacreditar a Justiça Eleitoral, o resultado das eleições de 2022 e, de maneira mais geral, a democracia brasileira. A demonstração visual foi acompanhada por uma linha do tempo contendo 13 acontecimentos considerados provas da tentativa de golpe de Estado, que vão desde transmissões ao vivo e reuniões internas até planejamento de ações de inteligência em diferentes fases de 2021 a 2023.

Slides de acusações

O slide montado por Moraes inclui o nome de Bolsonaro destacado junto aos de outras figuras centrais do caso: Braga Netto, Mauro Cid, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, além de outros acusados que compõem o núcleo estratégico da organização criminosa. A apresentação teve caráter sintético, indo direto ao ponto visual da acusação, com uso de gráficos e nomes para reforçar a configuração do esquema investigado.

O réu Jair Messias Bolsonaro deu sequência a essa estratégia golpista estruturada pela organização criminosa, sob a sua liderança, para já colocar em dúvida, o resultado das futuras eleições, sempre com a finalidade de obstruir o funcionamento da Justiça Eleitoral, atentar contra o poder judiciário e a garantir a manutenção do seu grupo político no poder, independentemente dos resultados das eleições vindouras“, disse Moraes.


Slide apresentado por Moraes com nome de Bolsonaro e 7 réus (Foto: reprodução/TV Justiça)

Narrativa e linha do tempo

Na linha do tempo, Moraes destacou atos ocorridos entre 2021 e 2023, incluindo ameaças explícitas à Justiça Eleitoral em lives, encontros ministeriais e uso de órgãos como a Polícia Rodoviária Federal e as Forças Armadas para influenciar o processo eleitoral. Em 2023, apontou-se à formação de um “gabinete de crise” após o que foi interpretado como a consumação de um golpe de Estado, culminando na criminalização do esquema como tentativa de perpetuação de poder fora do voto.

Defesa questiona credibilidade de Mauro Cid em julgamento do núcleo 1 do golpe

Nesta quarta-feira (03,) a defesa do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), afirmou, durante o segundo dia do julgamento, que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, não é uma pessoa confiável.

Em supostas mensagens enviadas por Cid pelo Instagram, o advogado de defesa de Jair Bolsonaro afirma que o tenente-coronel se encontra desmoralizado por ter sido ser pego mentindo. Ele também diz que, durante as perguntas feitas a Cid, este mencionou um perfil de Instagram, aparentemente falso, de nome “Gabriela R”, cuja senha e perfil estavam logados no celular de Mauro Cid, já apreendido anteriormente, o que tornaria indiscutível a prova de que ele utilizou o aparelho. O advogado afirmou ainda não saber se haverá investigação para responsabilizar alguém, mas destacou que o episódio mostra que Cid não é confiável.

O advogado Celso Vilardi afirmou que, apesar de parte da imprensa sustentar que as provas da Polícia Federal independem do colaborador, Mauro Cid já não possui credibilidade, pois foi desmoralizado após ser flagrado diversas vezes em contradições. Segundo ele, ao mentir novamente, Cid teria rompido formalmente o acordo de colaboração e colocado em dúvida sua própria voluntariedade.


Defesa de Bolsonaro diz que Mauro Cid não é confiável (Vídeo: reprodução/YouTube/@CNNBrasil)

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, se tornou uma peça-chave para a abertura do processo contra Bolsonaro e aliados. Ele firmou acordo de delação premiada com a Polícia Federal em 2023 e, em seus depoimentos, mencionou temas como um suposto plano de golpe, venda de joias sauditas, fraudes de cartões de vacinação e o chamado “gabinete do ódio”. A colaboração foi homologada pelo STF e fundamentou a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro e outras 33 pessoas, acusados de participar do 8 de janeiro, uma trama para impedir a posse do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, o sigilo da delação premiada de Cid caiu em fevereiro deste ano. Após a derrubada, 14 outros depoimentos do tenente-coronel vieram a público.

Segundo dia do julgamento

No segundo dia do julgamento, realizado nesta quarta-feira (03), foram apresentadas as defesas dos réus. A primeira fala foi dada a Matheus Milanez, advogado de Augusto Heleno. Em seguida, os advogados do ex-presidente realizaram sua defesa.

Na próxima terça-feira (9) será o dia em que os ministros votarão entre condenar ou absolver os oito réus do chamado núcleo um, assim que finalizada as sustentações orais de defesas.


 Advogado diz que não há provas que atrelem Bolsonaro a plano golpe (Vídeo: reprodução/Instagram/@CNNpolítica)

Réus do núcleo 1

Além do ex-presidente Jair Bolsonaro, o núcleo considerado crucial do plano de golpe reúne outros sete réus. Entre eles estão o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); o almirante de esquadra Almir Garnier, que comandou a Marinha durante o governo Bolsonaro; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Augusto Heleno, que chefiou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e Walter Souza Braga Netto, que também ocupou os ministérios da Defesa e da Casa Civil, além de ter sido candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022.