HIV: tecnologia RNAm usada na covid-19 pode ajudar pessoas soropositivas

Duas vacinas que usam a mesma tecnologia das vacinas contra a Covid-19 (feitas pela Pfizer e Moderna) conseguiram fazer o corpo reagir fortemente contra o HIV. Isso foi mostrado em dois estudos científicos, um feito com pessoas e outro com animais, publicados na revista Science Translational Medicine.

Mais de 41 milhões de pessoas no mundo tem HIV e mais ou menos 1 milhão estão no Brasil. Desde que a doença surgiu, os cientistas de todos os países tentam desenvolver uma vacina contra o vírus da Aids, mas até o momento não obteve sucesso.

Ao desenvolver uma vacina contra o vírus, os pesquisadores estudam como o corpo elimina agente causador da doença do seu sistema. Mas no caso do HIV o organismo não elimina o vírus totalmente do corpo, e na maioria dos casos, ele diminui a quantidade ao ponto de se tornar quase invisível. Outro fator importante são as mutações rápidas e constante de aparência, o que dificulta ainda mais o desenvolvimento de uma vacina específica e, por isso, quando se desenvolve uma vacina que elimine a doença, ela tem que passar por vários testes para saber se funcionará ou não nessas condições.

Nova vacina

A tecnologia RNAm é a nova esperança para a saúde desses pacientes, pois ela consegue se modificada rápido e tem baixo custo, além de oferecer rápidos resultados.  Com a nova tecnologia, o resultado saí em meses, o que traz agilidade para os pesquisadores. A vacina funciona via estímulos nas células e produz uma proteína específica encontradas na superfície dos vírus. Isso induz uma resposta imunológica, que ajuda o corpo a reconhecer e eliminar o vírus, caso seja exposto.

A vacina ideal para o HIV tem que “soltar” produções de anticorpos neutralizantes e imutáveis do vírus, que se semelham a muitas cepas e podem bloquear infecções, oferecendo assim proteção abrangente.


Tecnologia RNAm avança contra o vírus HIV (Foto: reprodução/NurPhoto/Getty Images Embaled)

Na nova abordagem, os pesquisadores fizeram vacinas para transportar informações para uma proteína encontrada na superfície do HIV. Em duas delas, eles ocultaram uma parte dessa informação proteico-chave que normalmente desvia a atenção do sistema imunológico para o desenvolvimento de uma resposta protetora. E na terceira, essa parte da superfície viral estava exposta.

O estudo

O primeiro teste foi feito em coelhos e macacos, com ótimos resultados, o que deu uma base para desenvolver a vacina para os testes em humanos, na qual 108 adultos saudáveis com idades entre 18 e 55 anos foram utilizados em dez centros de estudo diferentes nos Estados Unidos.

Cada participante recebeu três doses da vacina designada: uma na consulta inicial, outra dois meses depois e uma dose final seis meses após a primeira. A vacina que receberam foi selecionada aleatoriamente.

O resultado em animais e em humanos foram os mesmos, elas mostraram bons desempenhos quando esconderam as informações na célula proteica. Apenas 4% dos participantes que receberam uma vacina que expôs essa parte da superfície viral produziram anticorpos que poderiam bloquear a infecção; esse número saltou para 80% quando essa região não era visível ao sistema imunológico.

O estudo clínico em humanos foi feito principalmente para avaliar a segurança das vacinas, e elas tiveram bons resultados, mas também trouxeram efeitos colaterais leves como fadiga, dor, dor de cabeça, calafrios, náusea e dor no local da injeção, além de 6,5% dos casos os participantes tiveram urticária crônica ou leve a moderada em todas as versões da vacina. A maioria dos sintomas foi resolvida ou melhorada com anti-histamínicos orais, embora dois participantes tenham apresentado sintomas persistentes por mais de 32 meses.

Pacientes curados

No mundo todo, somente cinco pessoas foram curadas do HIV, mas nenhuma delas foi mediante vacinas desenvolvidas para a doença. A cura dessas pessoas foram através de transplante de medula óssea, mas isso não é uma opção viável para todos os pacientes com HIV, pois é um procedimento de alto risco e com limitações.
Esses pacientes tinham em comum além do HIV era que todos faziam tratamento contra o câncer, Timothy Ray Brown foi a primeira pessoa curada da doença e foi observado por 12 anos pelos médicos e nesse período a doença não reapareceu, ele morreu 12 anos após ser curado devido ao um câncer em 2008. A pesquisa para a cura total continua em todo mundo.

OMS recomenda injeção semestral para prevenção do vírus HIV

Uma nova recomendação feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pede que os países incluam o lenacapavir como uma ferramenta no combate à infecção do HIV. O medicamento foi recentemente aprovado para tratamento do vírus.

A recomendação foi feita nesta segunda-feira (14) durante a Conferência Internacional de AIDS, realizada em Kigali, Ruanda. A injeção foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, e após um mês de sua aprovação a recomendação foi feita.

O estudo sobre o medicamento foi aprovado em 2022 para o tratamento de infecções específicas por HIV em estudos voltados à prevenção, demonstrou reduzir drasticamente o risco de infecção, oferecendo proteção quase total contra o vírus.

Especialista

A Dra. Meg Doherty, diretora do Departamento de Programas Globais de HIV, Hepatites e Infecções Sexualmente Transmissíveis da OMS, durante uma coletiva de imprensa disse: “Essas novas recomendações foram pensadas para aplicação no mundo real. A OMS está trabalhando de forma próxima com os países e parceiros para apoiar a implementação” afirmou ela.

O lenacapavir é uma injeção de ação prolongada e é mais uma forma de prevenção para as pessoas e é bem eficiente segundo os estudos analisados, mas isso não excluí teste rápido que continuará a ser fornecido nos posto de saúde.


Dra. Meg Doherty na conferência sobre estudos da AIDS (Foto:Reprodução/site/UNITAID)


Medicamentos preventivos

Antes do lenacapavir ser aprovado, usavam-se outros tipos de prep na prevenção do HIV, como medicamentos em comprimidos como o Truvada (uso diário), ou injeções, como o Apretude (a cada dois meses). A lenacapavir será um medicamento semestral, uma nova aliada no combate à doença.

Por enquanto, os Estados Unidos são o único país a aprovar essa nova vacina. O HIV é transmitido mediante seringas e relações sexuais sem camisinha. O vírus ataca o sistema imunológico e, sem tratamento, pode evoluir para AIDS. A OMS revela que 40 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo até o ano passado.

Apoio

A fabricante do lenacapavir, a farmacêutica Gilead Sciences, disse que fez um acordo com um fundo para fornecer o medicamento para prevenção do HIV sem fins lucrativos. O preço do lenacapavir refletirá apenas os custos de produção e distribuição. O medicamento custará em média US$ 28.218, que é o valor parecido com as outras formas de prevenção. Nos Estados Unidos não existe saúde pública, por isso a cobrança da vacina aos usuários.

Mas caso haja quem não possa pagar pelo tratamento, existem programas de assistência como Ryan White hiv/aids e o Aids Drug Assistance, que ajuda financeiramente essas pessoas que não podem pagar, além de algumas empresas farmacêuticas oferecerem os medicamentos gratuitamente.

A ONU também alerta que milhares de pessoas podem morrer devido ao HIV até 2029 e que o financiamento do lenacapavir é fundamental para garantir a vida das pessoas que tem o vírus. No início do ano, o governo de Donald Trump decidiu reduzir o financiamento ao PEPFAR, o Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da AIDS, além de desfazer a USAID, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, que beneficiava vários usuários ao redor do mundo. Segundo a OMS, essa atitude coloca em risco mais de 30 milhões de pessoas.

Além da perda do financiamento, profissionais de saúde foram dispensados e pessoas antes tratadas foram deixadas de lado, segundo Winnie Byanyima, diretora-executiva do UNAIDS, em comunicado.