Silvia Venturini deixa direção criativa da Fendi após centenário da maison

Silvia Venturini Fendi anunciou nesta segunda-feira (29), por meio de nota, sua saída da direção criativa da Fendi, após três décadas à frente das coleções masculinas, femininas e de acessórios da grife. A estilista italiana, neta de Adele Casagrande e Edoardo Fendi, fundadores da maison, assume agora o cargo de Presidente Honorária, em um momento em que a casa italiana atravessa uma reestruturação após seu centenário.

De herdeira a símbolo da estética Fendi

Silvia ingressou na marca da família nos anos 1990, mas precisamente em 1992, trabalhando inicialmente com acessórios e moda masculina. Ao lado de Karl Lagerfeld, com quem trabalhou até 2019, ajudou a consolidar a identidade visual da maison italiana. Em 2020, assumiu as rédeas criativas da linha masculina, e mais tarde, também da linha feminina após a saída de Kim Jones, em outubro de 2024.

Sua visão estética sempre mesclou artesanato romano, inovação e luxo minimalista. Elementos evidentes nas suas últimas coleções, incluindo a apresentada no desfile que celebra o centenário da grife esse ano, em Milão. Entre suas criações mais marcantes está a icônica bolsa Baguette, símbolo da virada fashion da Fendi nos anos 2000. Silvia se inspirou nas mulheres parisienses que carregavam seus pães baguete debaixo dos braços para criar a bolsa, que se tornou popular ao ser usada por Sarah Jessica Parker, a fashionista Carrie Bradshaw, da série “Sex and the City” .


Carrie Bradshaw usando a bolsa Baguette da Fendi (Foto: reprodução/Instagram/@thesecretdiaryofa90sgirl)

Transição e futuro da direção criativa

A mudança ocorre em meio a uma série de renovações e mudanças na indústria do luxo mundial, com marcas buscando novas “vozes” para atrair um público global. Em nota oficial, Silvia declarou que à partir de 1º de outubro, deseja se dedicar ao legado da Fendi, dessa vez como Presidente Honorária, apoiando iniciativas culturais, patrimoniais e artesanais da grife, incluindo o segmento Fendi Casa.

O sucessor ou sucessora na direção criativa ainda não foi anunciado, mas a expectativa é de que a maison revele o novo nome em breve.


Nota oficial da saída de Silvia como diretora criativa da Fendi (Foto: reprodução/Instagram/@fendi@silviaventirinifendo)

Impacto no mercado da moda

A saída de Silvia da direção criativa da Fendi, acontece em um momento em que grandes marcas de luxo, como a Gucci, estão passando por transições criativas com trocas de estilistas, novos CEO´s e renovação estética, muitas motivadas por uma desaceleração do mercado de luxo. O que não parece ser o caso da grife italiana que permanece sem especulações sobre quedas ou mudanças drásticas nos preços dos produtos, pois ela permanece integrando a marca.

Segundo Silvia, sua decisão visa manter o legado da maison, focando na preservação de sua memória e na projeção global dos seus valores de excelência e trabalho artesanal.

Max Mara une estilo rococó e alfaiataria minimalista em desfile na Milano Fashion Week

Durante o terceiro dia da Semana de Moda de Milão, na última quinta-feira (25), a grife italiana Max Mara apresentou sua coleção primavera/verão 2026, em um magnífico rinque de patinação no gelo, no interior do Palazzo del Ghiaccio em Milão.  Assinada pelo estilista britânico, Ian Griffiths, a coleção “Modern Rococó”, combina a precisão da alfaiataria clássica com a exuberância e leveza do estilo rococó francês, propondo um verão elegante, fluido e intelectualmente provocativo.

Babados, tecidos translúcidos e referências à Madame de Pompadour dialogam com blazers estruturados e linhas retas, num desfile que evocou tanto a força e poder da mulher contemporânea quanto seus momentos de vulnerabilidade e sonho.

Uma coleção de contrastes

Em um momento global de tensões políticas, climáticas e culturais, a alta moda tem se dividido entre o escapismo e a armadura. Ian Griffiths, diretor criativo da Max Mara, optou pelos dois. A coleção idealizada e criada pelo estilista é um estudo sobre a dualidade: forma e fluidez, racionalidade e fantasia, sombra e luz.

Inspirada nos jardins franceses do século XVIII e na estética ornamental de Madame Pompadour; cortesã francesa, notória patrona das artes e figura política da corte do rei Luís XV. A coleção transborda referências históricas e traz para a passarela conchas estilizadas, folhas douradas, silhuetas florais e saias construídas em pétalas que remetem ao estilo rococó, repaginado e com frescor contemporâneo que o estilista costuma trazer às suas criações.


Max Mara, coleção primavera/verão 2026 (Foto: reprodução/Instagram/@voguethailand)


Griffiths, no entanto, nunca abandona a essência da grife: a alfaiataria. Blazers em cortes retos e minimalistas, ternos com bermuda, vestidos estruturados e coletes ajustados criam uma base sólida para os elementos mais leves e fluidos. A cartela de cores da coleção é sóbria: preto, branco, areia e o clássico camel (caramelo), marca registrada da grife italiana, desde o lançamento do camel coat (casaco caramelo) em 1981. A coleção ganha também um toque sutil de coral desbotado, usado para imprimir padrões de conchas e folhagens há alguns looks.


Max Mara, coleção primavera/verão 2026 (Foto: reprodução/Instagram/@maxmara)

O estilista britânico reforça a dualidade em toda a coleção, ora militar, mais rígido, ora etéreo, mas delicado. Croppeds justos em malha transparente convivem com capas leves e blusas que lembram coletes de contenção. Há uma delicada sugestão a essa estética em peças com alças e couro finas e cintos marcados na cintura, como se o corpo estivesse contido, mas pronto para florescer.

Ian Griffiths e suas inspirações

Formado em arquitetura, pelo Royal College of Art, Ian Griffiths está à frente da Max Mara desde 2013, embora tenha começado na empresa ainda jovem, nos anos 1980. Após vencer um concurso para trabalhar na grife, para o qual quase não conseguiu se inscrever, pois a tinta de sua caneta acabou antes de terminar de preencher os papéis, seu colega de apartamento que o salvou, ao chegar com uma nova, pouco antes da data limite de inscrição.

O estilista britânico combina um profundo respeito pela tradição artesanal italiana com uma visão estética moldada por suas origens na cena cultural do Reino Unido. “Cresci nos clubes de Manchester, onde se explorava identidade, teatralidade e expressão”, afirmou à revista W Magazine. Essa vivência reflete em sua abordagem intelectual da moda, sempre carregada de referências à arte, política e à história da moda.


Desfile da coleção primavera/verão, Max Mara, na Milano Fashion Week (Vídeo: reprodução/Instagram/@maxmara)

Nesta coleção primavera/verão, Griffiths explora o rococó não apenas como estilo visual, mas como sistema de poder e feminilidade. Madame Pompadour é uma das musas inspiradora da coleção. Segundo o estilista, em entrevista à revista Vogue Itália, ela simboliza uma mulher complexa, que não fazia parte da aristocracia francesa, mas construiu seu poder e influência com seu próprio talento. Ao trazer isso para a passarela, ele propõe um feminino que não precisa escolher entre força e beleza.

Griffiths também comenta sobre a importância de criar roupas que resistam ao tempo, literal e figurativamente. Em sua visão, a mulher Max Mara precisa tanto de elegância quanto de propósito. Ele declarou que ela está em movimento: lidera, resiste, mas também sonha.

Giorgio Armani deixa testamento que revela novos rumos para sua grife

A morte de Giorgio Armani, no início deste mês de setembro, trouxe não apenas uma grande perda para o mundo da moda, mas também uma reviravolta no destino de sua icônica grife italiana. O estilista, conhecido por preservar a independência de sua marca, indicou em seu testamento que seus herdeiros devem vender a maior parte do controle da Armani nos próximos anos, abrindo espaço para novos investidores ou até mesmo uma oferta pública.

O Sr. Armani não tinha filhos, e deixou como herdeiros: o parceiro Leo Dell’Orco, sua irmã mais nova, Rosana, suas sobrinhas, Silvana e Roberta; e um sobrinho, Andrea Camerana.

O futuro da marca Armani

Em um gesto que surpreendeu a indústria da moda, o testamento de Giorgio Armani, divulgado nesta sexta-feira (12), pela agência Reuters,  revelou um plano audacioso para o futuro de sua grife. O estilista, falecido aos 91 anos, delineou com precisão em seu testamento como a marca deverá ser administrada após sua partida. Ao contrário da postura de independência que sempre defendeu ao longo de sua carreira, a nova direção inclui a venda gradual da Armani. De acordo com os documentos revelados pela agência Reuters, a venda deve começar com 15% da grife em até 18 meses, com a expectativa de transferir mais 30% a 50,9% nos próximos três a cinco anos.

Gigantes do luxo como possíveis compradores

Entre os possíveis compradores, sugeridos por Armani em seu testamento, estão alguns dos maiores nomes do setor, como o conglomerado francês LVMH, responsável por marcas como Louis Vuitton, Dior e Sephora. A empresa de cosméticos L’Oréal, maior companhia de cosméticos do mundo; e o grupo EssilorLuxottica, que faz parte da fusão entre a Essilor, fabricante de lentes e a Luxottica, fabricante de óculos de sol e armações, dona de marcas famosas como a Ray-Ban e Oakley. Caso não seja alcançado um acordo com uma dessas potências, a alternativa prevista no testamento é uma abertura de capital, possivelmente na Bolsa de valores de Milão ou em outro mercado relevante.

Essa decisão marca um contraste com a filosofia de vida de Armani, que sempre evitou a diluição do controle de sua marca, recusando diversas ofertas no passado, como a de John Elkann, herdeiro da família Agnelli em 2021 e outra da Gucci, na época que Maurizio Gucci ainda liderava a empresa.


Richard Gere vestindo Armani em "Gigolo Americano" de 1980 (Foto: reprodução/Harper's Bazaar)

Giorgio Armani também assinou os ternos de "Batman o cavaleiro das trevas" de 2008 (Foto: reprodução/Instagram/@elhombrelifestyle)

O legado de Armani e possíveis mudanças no mercado de luxo

Giorgio Armani, ou Sr. Armani como era chamado por seus colaboradores, fundou sua maison nos anos 1970 ao lado de seu parceiro Sergio Galeotti e ficou conhecido, principalmente, por reinventar a alfaiataria e transformar a moda masculina, com peças desestruturadas e minimalistas que traziam conforto e estilo atemporal. Tornou-se popular em Hollywood, ao vestir o ator Richard Gere para o filme “Gigolô Americano”, de 1980, tornando-se a partir dali muito popular entre as estrelas de Hollywood e presença fixa no tapete vermelho de premiações.

Em 2024, a grife italiana registrou uma receita de 2,3 bilhões de euros, embora tenha enfrentado uma queda nos lucros devido a desaceleração do mercado de luxo.

O testamento deixado por Armani também revela que a Fundação Giorgio Armani, juntamente com seu parceiro e braço direito, o também estilista, Leo Dell’Orco, detêm 70% dos direitos de voto do grupo, com a fundação mantendo 30,1%, caso a empresa abra o capital.

Este testamento não apenas redefine o futuro da marca Armani, mas também pode mudar a dinâmica global do mercado de luxo com a possível entrada da marca em grandes conglomerados ou sua entrada na bolsa de valores, com ações disponíveis para compra por qualquer investidor do mercado.

Fortuna de Giorgio Armani será dividida entre familiares e companheiro de longa data

Giorgio Armani, renomado estilista italiano, faleceu nesta quinta-feira (04), deixando um legado significativo na moda internacional. Conhecido por seu trabalho com celebridades e por comandar sua própria grife, Armani acumulou grande influência no setor e construiu uma fortuna expressiva. Com a morte do estilista, surgem dúvidas sobre a sucessão da marca e a distribuição de seus bens, envolvendo familiares próximos e pessoas de confiança. Especialistas indicam que algumas medidas já estariam em vigor para preservar a continuidade do império Armani, mas detalhes sobre a gestão futura e o destino de sua herança ainda não foram totalmente esclarecidos.

Fortuna de Giorgio Armani

Um dos maiores nomes das grifes italianas e da alta costura, Giorgio Armani, referência global no mundo da moda, faleceu nesta quinta-feira (04), aos 91 anos. Sem cônjuge ou filhos, deixa um patrimônio avaliado em mais de R$ 65 bilhões e um legado consolidado no mundo. Armani era o único acionista da marca luxuosa que, em seu auge, chegou a registrar faturamento anual superior a R$ 10 bilhões que estimava ser 2,3 bilhões de euros.

Em entrevista ao portal LeoDias, o advogado especialista em direito de família e sucessões Daniel Blanck destacou que, segundo a legislação italiana, herdeiros legais têm direito garantido a uma parte da herança, independentemente do testamento. Com isso, a irmã de Armani, Rosanna, as sobrinhas Silvana e Roberta e o sobrinho Andrea Camerana, todos ativos na gestão do grupo, terão papel estratégico na continuidade da maison.


A morte de Giorgio Armani (Vídeo: Reprodução/Youtube/G1)


Além da família, Leo Dell’Orco, companheiro e braço direito do estilista, é considerado provável sucessor da maison, termo utilizado para se referir ao império da marca. Blanck acrescenta que Dell’Orco deve receber parte da porção “disponível” da herança e conduzir a empresa em conjunto com os familiares, seguindo o planejamento do estilista para uma transição gradual e estruturada.

Colaborações com celebridades

O estilista italiano também teve grande influência na moda global, vestindo figuras como a princesa Diana. Em 1997, ela apareceu em Paris usando um blazer da grife, enquanto Armani desenvolvia um vestido para um noivado que nunca ocorreu. Segundo ele, Diana possuía um estilo próprio, elegante e moderno, que valorizava suas formas e traços.

Quem também não ficou de fora das homenagens feitas para o lendário estilista, foi Cauã Reymond que já trabalhou como modelo e chegou a colaborar diretamente com Armani. Durante participação no programa “Mais Você”, da Rede Globo, o artista relatou sua experiência com o estilista: “Trabalhei cinco anos, assisti aos desfiles e acompanhei o treinamento dele. Ele estava sempre presente, atento a todos os detalhes, algo raro para alguém de sua posição”. Após a morte de Armani, Cauã se despediu em suas redes sociais: “Hoje nos despedimos de um mestre. Trabalhamos juntos por alguns anos e sempre foi um aprendizado. A moda celebra sua história”, comentou o ator.

Fundação Armani

A independência do império Armani foi reforçada em 2016 com a criação da Fundação Giorgio Armani, responsável por monitorar a governança e preservar os valores da empresa. Alterações estatutárias de 2023 permitiram criar classes de ações distintas, concentrando o controle entre os herdeiros e Leo Dell’Orco, prevenindo aquisições externas. Assim, a maison mantém-se alinhada à visão do fundador, integrando liderança familiar, profissionalismo e atuação filantrópica.

Jacob Elordi rouba a cena em Veneza com minimalismo e elegância

No Festival de Cinema de Veneza 2025, Jacob Elordi voltou a provar por que se tornou um dos nomes mais influentes da moda masculina contemporânea. Com um visual de linhas limpas e estética minimalista refinada, o ator vestiu peças assinadas pela Bottega Veneta, marca da qual é embaixador desde 2024 e que tem redefinido o conceito de luxo atemporal.

Para a première de Frankenstein, filme no qual interpreta um dos papéis principais, Jacob apostou em um terno grain de poudre feito sob medida, combinando camisa branca estruturada, gravata borboleta e as sapatilhas roma em couro intrecciato — técnica artesanal exclusiva da Bottega, celebrando seus 50 anos de tradição. O resultado foi um look de sofisticação sutil, reforçando a imagem de um ícone fashion que alia presença de palco e elegância natural.

Versatilidade e frescor no tapete vermelho

Jacob também surpreendeu ao escolher um visual mais descontraído e jovial para outro momento do festival. O ator surgiu com uma calça branca em fluid cotton twill e camisa de algodão leve, apostando em um look clean que reforça sua estética minimalista.


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Jacob Elordi para Bottega Veneta (Foto: reprodução/ Daniele Venturelli/Getty Images embed)

 A escolha reafirma sua habilidade de transitar com naturalidade entre produções estruturadas e descomplicadas, mantendo sempre um ponto de identidade estética. O visual foi elogiado por críticos de moda e fãs, que destacaram sua postura impecável e sua capacidade de equilibrar sofisticação e frescor, consolidando seu status como referência de estilo masculino contemporâneo.

Muito além da moda: sintonia e narrativa

A relação entre Jacob Elordi e a Bottega Veneta vai além de um contrato: reflete afinidade estética, valores compartilhados e uma visão de estilo. Desde que assumiu o papel de embaixador, em 2024, Jacob se tornou um símbolo do novo posicionamento da marca, que aposta na fusão entre artesanato de excelência e o quiet luxury — tendência em ascensão que valoriza o minimalismo sofisticado e a exclusividade discreta. O ator representa o encontro entre a tradição artesanal italiana e a energia de uma nova geração que busca autenticidade na moda.


Jacob Elordi para Bottega Veneta (Foto: reprodução/ Instagram/@newbottega)

Com uma abordagem que equilibra sofisticação e naturalidade, Jacob personifica a essência da Bottega Veneta e fortalece o discurso da marca de que o luxo contemporâneo não precisa ser excessivo. Para a grife, tê-lo como rosto oficial significa conversar com o público jovem, ampliar sua presença global e consolidar uma narrativa de exclusividade sutil.

Para Jacob, a parceria representa um passo estratégico na construção de sua imagem como referência de estilo masculino internacional, firmando sua posição na interseção entre cinema, moda e cultura pop.

Armani Privé celebra 20 anos com desfile em preto absoluto

Nesta terça-feira (8), a grife italiana Armani, com sua linha Privé, revelou sua mais nova coleção de inverno 2025 de alta-costura em um momento de grande celebração e reverência, marcando suas duas décadas da linha mais exclusiva da renomada maison. Carregando o nome Noir Séduisant, a coleção mergulhou na rica simbologia do preto, uma cor que, para Giorgio Armani, nunca é apenas neutra, mas sim uma paleta repleta de expressões sofisticadas.

Quase todos os 77 looks do desfile foram desenvolvidos em tons de preto total, intercalando apenas texturas, pesos e brilhos para multiplicar sua leitura estética: os veludos densos, as sedas líquidas, o tule bordado, o zibeline opaco e também detalhes metálicos que se revezavam em diversas camadas de significados. A cor, frequentemente associada à sobriedade, ganhou aqui contornos sensuais, aristocráticos e até futuristas.

A apresentação aconteceu no novo Palazzo Armani, edifício que abriga o ateliê de alta-costura da maison em Paris, além do showroom e dos escritórios criativos. O local foi transformado em um circuito de passarela íntima, com salas conectadas por cortinas pesadas e tapetes escuros, evocando os desfiles de salão das grandes maisons francesas do século XX. A ausência do estilista — que não pôde comparecer aos eventos presenciais por questões de saúde — foi sentida, mas isso não diminuiu a aura de sofisticação e o controle artístico que são marcas registradas do seu trabalho.

A linguagem da forma: alfaiataria, estruturas e silhuetas

Desde os primeiros looks, Armani traz de volta seu vocabulário visual mais icônico: a alfaiataria impecável, os volumes bem equilibrados e a mistura harmoniosa entre os códigos masculinos e femininos. Smokings reinterpretados, fraques em veludo com lapelas satinadas, jaquetas curtas com cinturas marcadas, blazers usados sobre a pele nua ou com finas gravatinhas de cetim desenham o corpo com sobriedade quase escultural.



As calças surgem em cortes variados — cigarrete, pantalonas ou levemente evasês — e os tailleurs ganham peplum, ombros erguidos e formas angulosas. As referências náuticas aparecem nos casaquetos com suas passamanarias e na leve estética militar das camisas listradas brilhantes. Ao mesmo tempo, pequenos detalhes como cintos, faixas e laços trazem um toque especial à feminilidade, sem que isso a torne frágil.

O preto, longe de ser apenas uma escolha fácil, atua como um elemento gráfico que dá destaque à forma. Armani reafirma sua convicção de que a rigidez formal pode, de fato, evocar emoções.

Rigor e brilho: vestidos de gala e fetiche couture

A segunda parte da coleção nos leva a um mundo de gala, onde o luxo é apresentado com uma elegância sutil. Vestidos em coluna feitos de tule, organza ou cetim, adornados com toques de ouro fosco ou prateado, exibem drapeados delicados, costas nuas, golas plissadas, plastrons etéreos e saias volumosas que parecem flutuar levemente. Os adornos — entre eles franjas de miçangas, cristais pavê, bordados de jato e punhos-joia — refletem a luz sem ostentação, criando um jogo de sombra e brilho que só é possível com o domínio artesanal da alta-costura.



Em diversos momentos, os vestidos são complementados por sapatos baixos ou sandálias delicadas, transmitindo uma sofisticação moderna que não precisa de artifícios para se destacar. Os toques de cor aparecem de maneira intencional: bordados em azul petróleo, rubi ou esmeralda surgem como pequenos respingos de joia sobre o preto, ressaltando a preciosidade do conjunto.

A mulher Armani — neste momento — flerta com a imagem de Marlene Dietrich, incorpora códigos andróginos e ao mesmo tempo desliza com delicadeza pelo espaço. Um exercício de equilíbrio entre força e fragilidade.

Beleza minimalista e atmosfera de ateliê

O visual das modelos reforçava a atmosfera de rigor da coleção. A maquiagem — assinada por Hiromi Ueda — apostou em uma combinação gráfica entre sombras pretas marcando o côncavo e branco esfumado nas pálpebras, chegando até as sobrancelhas, que surgiam apagadas, em tom acinzentado. A pele tinha um aspecto uniforme e natural, sem blush ou contornos. Os lábios tinham um leve tom rosado, quase como se fossem translúcidos. Os cabelos, meticulosamente arrumados para trás e adornados com boinas e acessórios, reluziam com um brilho polido, formando uma estética que parecia quase líquida.


Padrão seguido para cabelo e maquiagem do desfile (Foto: Reprodução/Fashion Network)

A cenografia do desfile, com sua luz suave e uma música de cordas tocando em um ritmo lento, criou uma atmosfera de introspecção e reverência — como se cada look fosse uma escultura viva em movimento. Os convidados descreveram a experiência como uma verdadeira imersão no coração do ateliê, onde o silêncio só era quebrado pelo som dos passos cuidadosos das modelos.

Um marco silencioso na história da maison

Celebrando duas décadas da linha Privé, o desfile de inverno 2025 não se jogou em mudanças drásticas ou gestos exagerados. Em vez disso, trouxe à tona a verdadeira essência do que a marca representa: precisão, elegância sutil e um olhar que valoriza o passado, sem perder de vista o desejo por inovação. Ao optar quase que exclusivamente pelo preto, Giorgio Armani reafirma que o que realmente importa — quando feito com maestria — é sempre suficiente.