Câmara aprova projeto que torna adulteração de bebidas crime hediondo

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (28) o projeto de lei que torna crime hediondo a adulteração de bebidas alcoólicas, alimentos e suplementos alimentares, sempre que a conduta provocar lesão corporal grave ou morte. A iniciativa — impulsionada pela série de intoxicações por metanol registradas no país — agora segue para o Senado para análise.

Mais rigor penal e efeitos esperados

De acordo com o texto aprovado, o crime de falsificação ou alteração de substâncias destinadas ao consumo humano poderá acarretar pena de 4 a 8 anos de reclusão. Se resultar em lesão corporal grave ou gravíssima, a pena sobe para 6 a 12 anos. Nos casos que culminarem em morte, o autor poderá ser condenado de 5 a 15 anos de prisão. O relator Kiko Celeguim (PT-SP) destacou que o endurecimento é resposta à gravidade observada nos recentes casos envolvendo metanol.


Bebida alcoólica (Foto: reprodução/Catherine Falls Commercial/Getty Images Embed)

Crise do metanol acelera votação

O projeto ganhou urgência após surtos de intoxicação com bebidas adulteradas — mais de 58 casos já foram confirmados e pelo menos 15 mortes registradas em Estados como São Paulo, Paraná e Pernambuco. A extensão do problema reforçou a necessidade de uma resposta legislativa mais firme para combater a falsificação e proteger consumidores.

Próximos passos e implicações legais

Com a aprovação na Câmara, o texto seguirá ao Senado, onde poderá sofrer modificações antes do envio à sanção presidencial. Especialistas ressaltam que, se sancionado, o projeto não apenas endurecerá as punições, mas também abrirá caminho para mecanismos mais modernos de rastreamento da produção e comercialização de bebidas, fortalecendo a atuação conjunta de órgãos de fiscalização, saúde e segurança pública.

Além disso, a medida poderá estimular uma revisão nos protocolos de inspeção industrial e incentivar o setor a investir em tecnologias de controle de qualidade mais rigorosas. A expectativa é de que a nova legislação funcione como um divisor de águas no combate à adulteração de produtos de consumo, reforçando a confiança do público e estabelecendo um novo padrão de responsabilidade para fabricantes e distribuidores.

Perícia revela que metanol encontrado em garrafas apreendidas em SP foi adicionado

Os peritos oficiais do Estado de São Paulo analisaram dois grupos de garrafas de bebidas alcoólicas destiladas apreendidas durante operações de fiscalização na capital paulista. A perícia identificou níveis de metanol nas amostras e concluiu, pela concentração encontrada, que a substância não surgiu naturalmente, mas foi adicionada de forma proposital.

Normalmente, pequenas quantidades de metanol se formam durante o processo de destilação de álcool, entretanto, neste caso, a perícia descobriu que a quantidade era acima do normal, o que indicia adulteração.

A quantidade de garrafas analisadas, os tipos de bebidas e o local da apreensão não foram divulgadas.

“O Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo trabalha 24h nas perícias de constatação e concentração das amostras apresentadas pela Polícia Civil, assim como na análise documentoscópica de rótulos e lacres dos recipientes. Pode-se afirmar, até o momento, e conforme as concentrações encontradas, que o metanol foi adicionado, não sendo, portanto, produto de destilação natural”, complementou.

Força tarefa analisa garrafas apreendidas

O Instituto de Criminalística montou, na última sexta-feira (3), uma força-tarefa dedicada a examinar bebidas apreendidas em operações de fiscalização. O objetivo é apurar se houve adulteração e contaminação por metanol. Dados do governo de São Paulo indicam que, desde o dia 29, mais de 16 mil garrafas já foram apreendidas.


Metanol em garrafas apreendidas foi adicionado (Vídeo: reprodução/YouTube/@Band Jornalismo)

Durante o processo de análise, é feito a checagem das embalagens para descobrir se houve rompimento ou reaproveitamento das mesmas. Após, a bebida passa pela separação de seus componentes em um equipamento. Apenas o laudo final pode confirmar se há ou não a presença de metal e qual sua quantidade.

O metanol é um tipo de álcool usado em solventes e outros produtos químicos, o que torna perigoso quando ingerido. A substância ataca o fígado, transformando em substância tóxica que pode comprometer o cérebro, o nervo óptico e a medula, a substância pode provocar insuficiência renal e pulmonar, além de causar cegueira, coma e morte.

Casos em São Paulo

O estado de São Paulo confirmou nesta terça-feira (08) 18 casos de intoxicação por metanol. 158 casos estão sendo investigados e 38 já foram descartados. Nesta segunda-feira (06) em Vila Formosa, Zona Leste de São Paulo, a força-tarefa do governo paulista apreendeu mais de 100 mil garrafas vazias em galpão clandestino.


Policia fecha bares em SP (Vídeo: reprodução/YouTube/@SBT News)

Já foram fiscalizados cerca de 18 estabelecimentos desde a semana passada, desses, 11 foram interditados de forma cautelosa por questões sanitárias.

Seis distribuidoras e dois bares tiveram a inscrição estadual suspensa de forma preventiva. Entre os estabelecimentos estão a Bebilar Comercial e Distribuidora de Alimentos e Bebidas (com quatro inscrições), a Brasil Excellance e Exportadora de Bebidas, o BBR Supermercados, a FEC Alves Mercearia e Adega, além da Lanchonete Ministro.